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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

HISTÓRIA: SUCESSO DO MOVIMENTO ANTI-RAKEANO, MARXISMO VULGAR E MARX

Ensaio sobre os capítulos 10 e 11 do livro "Sobre História" de Eric Hobsbawm

Amigos, este livro é muito bom! Para historiadores ele é um "prato cheio". É incrivel como Hobsbawn apresenta diversos ensaios com conteúdos pertinentes para o Historiador.

O problema da história não e Marx. É o marxista. Acorda menino!

Boa leitura!

HISTÓRIA: O SUCESSO DO MOVIMENTO ANTI-RANKEANO, MARXISMO VULGAR E MARX

Por Fellipe de Assis Zaremba

O século XIX pode ser caracterizado num tripé: superioridade do pensamento burguês; ao mesmo tempo sua consolidação como classe dominante, realizações intelectuais qualitativas a partir do desenvolvimento das ciências e a ampliação dos aspetos tecnológicos proporcionada pela chamada Segunda Revolução Industrial que possibilitou o desenvolvimento do capitalismo financeiro monopolista ou aquilo que Lênin preferiu definir como fase superior do capitalismo.
A partir de 1840 via-se a expansão de diversas realizações intelectuais notadamente chamadas de ciência, mas a disciplina acadêmica história que alcançou status e técnicas de pesquisa, não é uma delas.
A história acadêmica neste período segue aspectos cognitivos categorizados por Leopold Von Ranke no The Theory and Practice of History, que apresentavam corretamente, de um lado argumentos contrários à generalização positivista baseada segundo Hobsbawm (1997: p.155) em fatos insuficientes ou respaldados por fatos não confiáveis. Por outro lado, Hobsbawm argumenta que a história concentrava todos os seus esforços na tarefa de estabelecer os fatos, sua existência e a partir daí media-los com a própria história, exceto por um conjunto de critérios empíricos para avaliar certos dados quantitativos e qualitativos de evidência documental.
Nesse sentido o engajamento científico com engenhosidade intelectual era negligente e incerto (HOBSBAWM, 1997). Essa visão possibilita a nós leitores afirmarmos que esta disciplina era retrógrada por não oferecer de um lado, um entendimento socioeconômico em termo de forças sociais e de outro, a realização de más interpretações documentais promovidas por um pensamento pouco especulativo o que de certa forma possibilitou um levante intelectual contrário ao postulado de Ranke conhecido no universo acadêmico ou na própria historiografia como movimento anti hakeneano.
O movimento anti hankeneano obtém sucesso após a segunda guerra mundial e nas palavras de Arnaldo Monigliano possibilitou a incorporação de seleções das concepções de Marx sobre a história. Porém o grande impacto desta seleção não arbitrária representava um esforço de assimilação dos leitores marxista. No entanto, para o impacto inicial do marxismo, as escolhas efetivas de elementos e categorias de análise de marxistas não tinham nenhuma ligação com o pensamento moderno de Marx.
Hobsbawm observa esta influência que grosso modo, se limitava a um levantamento sumário de elementos que não representavam o pensamento de Marx, mas o resultado de uma aproximação necessariamente representativa que contribuiu significativamente para o processo de modernização da historiografia, em tempo nomeia esta influência de marxismo vulgar:

Marxismo vulgar como aproximação ou tentativas de interpretação da produção marxiana sob a luz da incapacidade intelectual para o discernimento interpretativo e produção acerca de Marx, que e provoca deformações nas propostas teóricas marxianas, que ainda, interpreta intencionalmente o materialismo histórico com a propositura de confundir ainda mais a representação da economia política; e também, toda e qualquer leitura redutora da produção marxiana. (HOBSBAWM, 1997).

A redução do processo histórico às causas econômicas é tida em geral como uma doutrina do marxismo vulgar em contraste com o marxismo autêntico ou moderno, supostamente muito mais diferenciado e sutil. Segundo Hobsbawm uma das alegações que sustentam essa certeza é que "o próprio Marx" reconheceu a existência de outras forças históricas revelantes, afirmando que as causas econômicas só predominam "em última instância".
Nesse sentido a utilização de concepções aproximadas oferecidas no espaço do marxismo vulgar resulta de um lado, a seleção de concepções de Marx e de outro a possibilidade de assimilação das mesmas a concepções não marxistas a exemplo do evolucionismo, do positivismo e até mesmo do funcionalismo.
Quando observamos a utilização de concepções notadamente densas e pertinentes do pensamento moderno de Marx percebemos que a grande contribuição está no valor que as idéias específicas desenvolvidas pelo próprio Marx produziram na história e nas ciências sociais valendo-se da teoria da base da superestrutura, ou seja, de uma sociedade composta de diferentes níveis em processo constante de interação. Contudo, não podemos de excluir o fato de que a inclusão do papel dos conflitos de classe e a sucessão de formações socioeconômicas e o mecanismo de transição de uma para outra, transformando, mesmo que tendenciosamente, a história em ciências sociais.

Referência
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

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